segunda-feira, 25 de julho de 2016

Estrelas perdidas (resenha)


Resenha dos romances O Voo da Guará Vermelha e Antes de nascer o mundo, inspirada na música "Lost Stars" (Adam Levine)... 

Por favor, não veja
Apenas um garoto preso em sonhos e fantasias


Não!, não veja


Apenas uma carcaça amaldiçoada de realidade. Sei que me vês perambulando de terra em terra, mas não fujo de nada, não sou escravo! nem ladrão, o que busco achar não hei de roubar de ninguém, sou homem de palavra e me engordo dessa vontade louca de escrever, de poder colorir com tudo quanto é cor o amarelo das velhas páginas… um dia vou achar quem me ensine a ler e a escrever, eu vou, vou sim


Então, não veja


Apenas um corpo comprado. Sei que o que vês é uma puta desgraçada, mas o que me desgraça é essa vida sem graça, sem cor, sem dança, sem nada, tenho que pagar a velha, mas tô sem um tostão, o que será do menino? hoje não teve clientela, os homens só querem as mais moças pra fazer amor, e dar amor eles não dão não, quem tem profissão de puta não tem amor, não tem carinho de graça, nem sonho pra quando se deitar… isso aprendi cedo, e agora tem a velha, ahh! a velha… e o menino! o que será do menino? hoje mal posso pagar, mal me deito na cama, mas e depois?… quando meu corpo não se levantar mais, o que será do menino?


E, por favor,... não veja
Apenas um velho louco de alma apodrecida. Sei que me vês como coração petrificado, homem despido de amor e coberto de ódio, raivas e possessões, mas saibas tu que o que me estrangula são maldições!, demônios!, e aquela puta! fantasma. E pare, pare, pare! de me fazer lembrar dessas coisas que eu nem lembro mais, eu esqueci, esqueci!, entendeste? vem, Mwanito, vem aqui me acalmar com seu silêncio

Só te peço… não veja

Apenas um garoto preso em sonhos e fantasias. Sei que me vês com os olhos nos céus e no horizonte, mas é que fico pensando no meu irmão e no que ele me diz sobre as lembranças de nossa mãe,... conheceste minha mãe? por favor, por favor, me conte! como ela é? é,... eu sei… não podes me falar, mas já estou cansado disto! e de um tanto mais de coisas: não posso cantar nem contar o tic tac do tempo, nem dançar, nem ver mulher e nem escrever… não posso escrever! como hei de aprender sem que o velho saiba? quem há de me ensinar? e onde? aqui não tem professor não, nem livro, papel branquinho nunca vi… é que eu queria sonhar histórias, sabe? mas o sonho de quem sempre viveu pregado a um só chão não sabe viajar

Então, por favor,... me veja
Tentando alcançar alguém que não consigo ver
Só pegue minha mão…
Vamos ver onde vamos acordar amanhã

Em histórias de Mil e Uma Noites talvez? Ou nas suas incontáveis histórias? Só vamos dormir com elas… e ver se amanhã vamos acordar dentro delas…! Pegue minha mão e vamos velejar! vamos atravessar nossos medos, vem, vem, minha guará vermelha, juntos vamos chegar ao Lado de Lá

E, Deus!, diga-nos o motivo!...
Só estamos procurando um significado…

Empoeirei-me os pés… e andei por entre marrons e cinzas de florestas e calçadas

Empoeirei os sonhos de menina… e desandei na vida cultivando feridas

Empoeirei tudo, todos, ela! até meu corpo virar pó; o pó, barro, para nele voltar e dele renascer espírito livre! livre? de futuro

Empoeirei minha infância e juventude… já nasci na vida adulta, entende?

Afinal, quem somos nós?
Apenas um amontoado de poeira no meio da galáxia?

Não!, não se atreva
Deixar que nossas melhores memórias te tragam tristeza

Conte-me sobre mamãe!... sobre Dordalma, porque eu sei, sei que ainda guardas memórias dela

Conte-me mais! até eu dormir, conte-me tudo o que já viste e faça-me sonhar

Ontem eu vi um leão beijar um veado
E Silvestre Vitalício beijar a jumenta Jezibela

Conte-me tudo! sobre Mil e Uma Noites e outras histórias! e mostre-me onde estão as palavras, quero vê-las e guardá-las pra sempre em minha memória

Vire a página
Talvez nós achamos um outro final
Onde nós estamos dançando em nossas lágrimas

Vire a página… olhe pra mim

Será que todos somos estrelas perdidas?
Tentando iluminar a escuridão?


Somos estrelas? perdidas? tentando iluminar qual escuridão?

 
Kaori de Novaes Kawano
Bolsista voluntária do Projeto "Textualidades babélicas"  
Estudante do Curso Técnico Integrado ao Ensino Médio em Química (IFSC/Campus Florianópolis)




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