segunda-feira, 25 de julho de 2016

O Voo da Guará Vermelha (resenha)


Este romance tem uma leitura muito agradável e dinâmica, sempre fazendo o leitor imaginar cada detalhe, seja das roupas dos personagens, seja os seus sentimentos mais profundos. O que mais me tocou nessa leitura foi a persistência para alcançar a felicidade. Mesmo Rosálio tendo uma vida difícil desde de sua infância na qual foi abandonado por sua mãe que se matou logo após seu nascimento, sempre teve um plano, que era aprender a ler a escrever para, um dia, talvez, poder viver de contar história. Um sonho de um menino que lutou e percorreu vários lugares atrás de uma professora que pudesse ensinar a escrita e a leitura, porém nesse caminho ele conheceu muita gente, com histórias muito diferentes e, mesmo sem saber ler e escrever, teve uma vida cheia de coisa para contar. Então, ele mais uma vez vai para cidade em busca de emprego e de estudo, porém conhece Irene, uma prostituta com aids que não tem nada na vida a não ser seu filho e uma velha que cuida dele. Essa mulher que estava com a doença muito avançada, sem solução, segundo os médicos, dá toda sua força para poder continuar trabalhando exclusivamente para sustentar seu filho e velha, porém, com a aproximação de Rosálio, tudo muda, ela não quer mais dinheiro desse homem, só quer, depois de todo um dia de serviço, deitar e ouvir as mais variadas histórias que ele conta.

Assim começa uma grande amizade, um amor que vai além do físico. Irene, sempre muito fraca, junta todas as suas forças para ensinar a Rosálio como se lê e se escreve; ele se dedica a aprender dando em troca à mulher suas histórias que, muitas vezes, são extremamente tristes, mas servem para ela esquecer o máximo que pode dessa vida. As histórias são variadas o que torna o livro ainda mais interessante. Rosálio começa falando de sua infância, na qual era um menino sozinho no mundo, sem nome, sem família, apenas com uma senhora que cuidava dele e um homem que lhe deu o seu maior tesouro, um baú de livros. Independente de onde e como ele estivesse, o baú estaria sempre perto. Quando ele conhece Irene, tem a grande oportunidade de saber as histórias que continham naquele baú. Esse amor entre os dois só cresce depois de muitas idas ao bordel para falar de sua vida, nem sempre só para Irene. Rosálio tinha o dom de acalmar as pessoas ao falar, por isso também conta histórias para uma colega de serviço de Irene, Anginha, que comete o maior erro, aproximar-se de um cliente afetivamente.

Temos vários personagens nesse livro, todos muitos diferentes um dos outros, cada um com uma história que se mescla com a história de vida do Rosálio. 

O desfecho do romance não é tão surpreendente, pois sabemos que Irene tem uma doença terminal e que, como Rosálio sabe ler e escrever, pode viver do que sempre sonhou, contar suas histórias na praça para ganhar dinheiro com o que realmente ama, deixando de ser apenas um homem forte que serve somente para trabalhar com serviço braçal. Deste modo, termina a história, Rosálio tem Irene cuidando dele no céu azul e pode viver do que sempre amou.

Para mim, a maior relação desse livro com as nossas reuniões é o fato de as histórias de vida serem contadas para todo mundo ouvir e fazer disso um momento único e importante para quem conta e ouve. Isso vai muito além de só ouvir também, temos a troca de experiências, em que Rosálio transforma suas vivências em histórias que conta para Irene e esta que sempre teve uma vida muito fechada o ensina a ler e a escrever. Então, com isso, sabemos que, mesmo alguém que tenha tão pouco, pode dar muito, só depende de como você vê essa pessoa e de como você retribui isso.

Mayra Herzog

Bolsista do Projeto "Textualidades Babélicas"
Estudante do Curso Técnico Integrado ao Ensino Médio em Saneamento (IFSC/Campus Florianópolis)
  

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